Entre os vales das montanhas que se estendiam a norte da aldeia, havia um lago silencioso que, de vez em quando o jardineiro costumava visitar. Era um lugar especialmente belo, rodeado de bosques e penhascos, onde as águas tranquilas ofereciam uma visão esmagadora de paz e beleza.
O jardineiro amava aquele lugar, e muitas vezes tinha procurado a sua cálida protecção, quando a dúvida e a confusão lhe oprimiam os pensamentos. Mas no último Verão um espantoso incêndio tinha arrasado os bosques que outrora tinham presenciado os arrebatamentos do seu espírito. O jardineiro, entristecido, tinha percorrido as negras encostas da montanha quando os troncos das árvores ainda fumegavam, e prometera a si mesmo voltar a dar vida àquele lago desolado, na medida em que as forças de um homem só o pudessem fazer.
Pouco antes do Inverno, já tinha percorrido o lugar com um saco cheio de sementes de azinheira e de carvalho, enterrando as bolotas o melhor possível nos sítios mais húmidos que encontrara. E continuou esporadicamente o trabalho ao longo daquele Inverno, esperando que as nuvens da Primavera dessem vigor às sementes, para que começassem a fazer-se à vida.
Pouco antes do Verão seguinte voltou a visitar o lago, procurando entre as novas ervas e os rebentos de pinheiro, os sinais da nova vida que ele tinha semeado. A sua alegria não teve limites quando viu que, entre os rebentos de alecrim, apareciam as folhas tenras de um carvalho de que se lembrava bem ter semeado ali. Continuou a caminhar e deparou-se cada vez mais com rebentos de carvalho e azinheira, e o jardineiro pensou que tinha valido a pena o esforço daquele Inverno.
Foi então que recordou a imagem do primeiro punhado de sementes que tirou do saco, e dos sonhos que lavraram a sua mente esperançada com aquele punhado de vida nas suas mãos.
Viu um bosque profundo e frondoso, com umas árvores de troncos enormes a cobrir com uma sombra espessa, a vida que pulsava no seu interior. Plantas aromáticas, insectos, aves, animais, vivendo ao abrigo do pai bosque, húmido e nutridor, sábio e responsável pela vida que albergara.
Agora via surgir as primeiras folhas daquele enorme bosque, um bosque que jamais veria na plenitude do seu esplendor, uma vez que a vida lhe iria retirar os séculos que oferecia generosamente às árvores.
Mas também a vida, pensou o jardineiro, lhe tinha dado a possibilidade de entrar nos férteis campos da eternidade atravessando o muro do tempo... entre as doces brumas da imaginação.
In "O Jardineiro- Contos para curar a alma", de Grian
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